quinta-feira, agosto 17, 2006

Manual de instruções e garantia de fábrica para gêneros humanos

Sempre que compro qualquer eletro-eletrônico, roupa, ou sapato que seja, procuro dar uma olhada no manual de instruções e na garantia do fabricante. E embora nem entenda todos os seus símbolos e termos técnicos, os considero de grande valia para aprender a manusear e manter o meu novo bem.

Pois bem. Fico pensando em como seria mais fácil se ao gênero humano fossem aplicadas as mesmas regras, se ao nascermos viéssemos todos com manual de utilização que discriminasse todas as nossas idiossincrasias, condições de funcionamento, prazo de validade, etc, assim como um certificado de garantia emitido por nossos progenitores, bem ao estilo Inmetro ou ISO 9000.

Digo isso porque tenho uma grande dificuldade perceptiva em relação a sutilezas das emoções alheias. Nunca sei se ao manifestar preocupação e cuidado com alguém, esse alguém pode me tomar por intrometida ou pegajosa. Se for a distraída habitual, posso ser interpretada como insensível, relapsa, que faz pouco caso ou dá pouca importância aos acontecimentos da vida alheia...

Um manual de instruções seria ideal para casos como esses. Nos pouparia um tempo precioso ao conhecer pessoas. O diálogo cincundante de praxe do tipo “Oi! Qual o seu nome? Vc vem sempre aqui? Gosta de cinema? Quais são seus blá-blá-blá-blá-blá prediletos?” seria facilmente substituído por “Oi. Como você se chama? Posso dar uma olhada no seu manual de instruções?” ou o direto “Oi. Sou fulano. Quer dar uma olhada no meu manual? Minha garantia tem o selo do InMamma.”, para os mais atiradinhos. Assim, saberíamos se valeria ou não a pena investir tempo, emoções e dinheiro em futuros relacionamentos.

Aparentemente funcionaria bem. Mas aí, ao consultar o meu próprio manual e certificado de qualidade, ficaria com um medo danado de sair distribuindo os mesmos por aí. O sistema InMamma lá de casa deveria garantir perfeito funcionamento por, pelo menos, uns 30 anos, não é? Mas antes mesmo desse prazo de validade já apresentei um monte de panes fisiológicas. Ainda bem que nasci antes do Código do Consumidor! Para exemplificar a razão de meu receio, examinemos, pois, alguns itens do capítulo 4, do volume IX do compêndio fabítico:
- Produto: Mulher
- Altura em idade adulta: 1.70 m
- Cor: branca (podendo apresentar variações para o rosa ou o vermelho ao sofrer ação de raios solares)
- Olhos: aparentemente castanhos. Somente os privilegiados que chegarem suficientemente perto conseguirão ver que são, na verdade, verde-escuros, com grande tendência a clareamento em casos de exposição ao sol ou tingimento dos cabelos.
- Cabelos: item imprevisível e de vontade própria. Pode-se apresentar na forma ondulada, cacheada ou liso-Glória-Pires, dependendo da intensidade da chapinha realizada, assim como mudar de cor de 3 em 3 meses, conforme orientações específicas do cabeleireiro.

Devido ao triste histórico familiar, algumas imperfeições fisiológicas já se manifestaram. A ver:

- Sistema visual: estrabismo; astigmatismo e fotofobia (desde os 8 anos)
- Sistema mastigador: devido à alta quantidade de doces ingeridos, apresentou desgaste aos 8 ou 9 anos. Depois disso, foram necessárias manutenções periódicas, que já não são realizadas há uns bons 5 anos.
- Sistema circulatório: membros inferiores mais parecidos com um mapa hidrográfico. Há mais ramificações e afluentes neles que no próprio Rio Amazonas.
- Sistema de armazenamento de informações: a partir dos 25 anos percebeu-se uma perda sensível na quantidade de neurônios atuantes. Resultado: Síndrome de Dory.
- Sistema reprodutor: como não há previsão de filhos tão cedo, aconselha-se a, pelo menos, realizar manutenção contínua de parte do sistema (mais conhecida como genitália), antes que atrofie por falta de uso.

Obs: Nem entraremos no capítulo Emoções, Traumas e Perfil Psicológico por ser de uma complexidade extrema. Praticamente indecifrável.

E no fim das contas, chego à triste conclusão de que é melhor mesmo não virmos com manual nem certificado. Depois de ler os meus, quem me levaria pra casa?

Por essas e outras falhas de funcionamento, tenho que correr com minhas projeções financeiras para fazer um seguro-saúde o mais brevemente possível. Antes que a máquina aqui pife de vez, preciso levá-la para manutenção. Há uma lista gigantesca de “-istas” a visitar: o oftalmologista, o endocrinologista, o neurologista, a angiologista, o dentista... ai ai.

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

"Gattaca", já que o post acima é sobre filme...

2:51 PM  
Blogger ßïå disse...

Legal o link de idéias. Mas não brinca com isso não, porque se levarem a sério minha sugestão, eu mesma corro o risco de sobrar numa prateleira qualquer da vida ou acabar numa liquidação de ponta de estoque - aquela para produtos com "pequenos" defeitos...

3:06 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Oras, Bia: sempre há quem espere ansiosamente por liquidações, ou que não resista à uma ponta de estoque...

2:21 PM  

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