terça-feira, outubro 17, 2006

Aipim com gosto de saudade

Certos pratos ou alimentos têm o poder mágico de remeter-nos a outras épocas de nossas vidas, fazer-nos recordar lugares e pessoas que os degustavam conosco. Nesse fim de semana tive meu momento nostalgia ao saborear um prato bem simples, mas que para mim vem sempre acompanhado de lembranças da infância, de momentos de refeição em família e, por conseqüência, de muito carinho.

Como boa filha de nordestinos que sou, não resisto a certos itens da culinária “lá de riba”. Uma boa farinha de mandioca, branca e fina, por exemplo, sempre me faz lembrar daquela utilizada por minha tia para dar a liga ideal para os maravilhosos bolinhos redondos, feitos de arroz, feijão, farinha e um cheirinho de carne, que ela enfiava “goela abaixo” das crianças e chamava gentilmente de “capitão”. Eu simplesmente a-do-ra-va a farra com meus primos e, principalmente, a hora da refeição coletiva, porque sabia que ia ter capitão, um por vez para cada boquinha faminta.

Outras coisinhas gostosas que me lembram casa da vó, dos tios ou a de mami são o cuscuz de milharina e o biju, que tostadinho, com qualquer recheio ou em qualquer horário é sempre uma boa pedida.

Mas de todos os pratos habituées de nossa mesa, tenho verdadeira adoração por um: o aipim. Nessa sexta-feira, ao dividir com uma das amigas de apê uns pedaços de aipim que acabara de cozinhar, me peguei agradecendo a Deus por um momento tão simples, mas tão significativo para mim.

Nesse dia, pedaços de aipim cozido com manteiga derretendo sobre si chamaram o café fresquinho, o leite quente e me remeteram a vários outros momentos de refeição em família. E, obviamente, a alguém especial na minha vida, meu pai.

Aipim com café tem gosto de saudade. Saudade das manhãs em que ele nos acordava (eu e meus irmãos) chamando baixinho, com cafuné e com uma serenidade que só ele tinha e nos transmitia. Como era bom ser acordada desta forma só para não perder o aipim quentinho, o cuscuz de milharina ou o pão francês com ovo estrelado, com aquela gema bem molinha que só ele sabia preparar.

Ao lembrar do café, inevitavelmente lembro dos fins de semana de pizza que ele preparava para a família e para meus amigos, aquele bando de adolescentes caretinhas que freqüentavam a casa para tardes de estudo, música, filmes VHS ou qualquer outro pretexto para saborear seus quitutes. Recordo ainda dos domingos de lasanha, carne assada ou de bife à parmegiana, que ele adorava fazer... e comer, claro.

Por essas e outras, sou muito grata à vida pela família que tenho e pelo pai que tive. Pai que era nosso porto seguro, nosso esteio, que sonhava junto, que dizia “não” quando necessário, que entre um plantão e outro arrumava tempo para nos colocar para dormir ou acordar cheio de carinhos.

Às vezes me pergunto se excesso de amor deixa a gente mal acostumada ou exigente demais, se ainda haverá tempo de ter filhos, visto que de marido não há qualquer sinal até agora... Sei que não posso reclamar do que recebi da vida até aqui, mas será que é pedir demais que ela me conceda alguém com a mesma disposição para amar e construir, ao meu lado, uma família? Será que a minha porção de amor nesta vida é finita e já me foi concedida? Eu, sinceramente, espero que não.

E depois de todo esse texto, fiquei pensando: ou o aipim tem propriedades terapêuticas ainda não descobertas pelos psicólogos Brasil afora ou isso é crise dos trinta...

5 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Bia, aipim = mandioca?

12:48 PM  
Blogger ßïå disse...

É, Barista. Aipim = mandioca. Será que só a gente aqui é que chama assim? :-)

1:58 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Lembro de aipim frito. Lembro que comia no almoço. Lembro que o aipim era plantado no terreno do meu avô. Lembro que eu gostava de aipim com katchup.
Gosto de bolo de aipim, aquele doce, sabe?

Engraçado quando você disse do seu pai, lembrei como aprendi a fazer café. Meu pai trabalhava até tarde desenhando na prancheta e, quando eu acordava à noite fazia café para mantê-lo acordado. Eu devia ter uns seis anos nessa épica. Sempre fazia surpresa, para ele ter que aceitar. Nos primeiros percebi que ele fazia aquela cara de (tá descendo mal). Como o tempo aprendi e hoje não vivo sem café. De preferência o artesanal, feito no coador de pano.

Desculpe pelo extenso comentário.

Desejo sinceramente que recebas um novo carregamento de porção de amor.

5:38 PM  
Blogger ßïå disse...

Hmm, Monsores=Matecomcafé. Mais um barista por aqui. :-) Estou vendo que vou ter que deixar sempre um café fresquinho para servir às visitas.

Agora, aipim com katchup é realmente uma combinação inusitada. He he.

8:53 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Sem crises, amiga!!
Confie apenas! ;)

Então.. voto na possibilidade do aipim ter propriedades terapêuticas ainda não descobertas por "nós" psicólogos!! rs..

Beijinho.

4:02 PM  

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