segunda-feira, março 19, 2007

O crime na vanguarda da inclusão social

Enquanto governo, empresas e sindicatos discutem as relações de trabalho nestes tempos pós-modernos e tentam chegar a um denominador comum sobre um tema delicado como inclusão social no mercado de trabalho, seja de negros, mulheres e/ou portadores de deficiência, a criminalidade, cada vez mais organizada e eficiente em seus propósitos, caminha a passos largos nessa direção. Na vanguarda das relações “trabalhistas”, a criminalidade abriu amplo espaço para recrutamento e seleção de PPDF (Profissionais Portadores de Deficiência Física) ou PPNE (Profissionais Portadores de Necessidades especiais), para ser mais politicamente correta.

Explico: na última sexta-feira, assistindo ao telejornal de costume (não, não é o JN), me deparei com uma notícia que seria cômica, se não fosse trágica. Uma quadrilha de surdos-mudos(!) foi presa em flagrante num shopping center paulista. Três mulheres foram detidas por furto em uma das lojas do shopping e, já algemadas no camburão da polícia, estavam aos gritos – ou melhor, aos gestos – numa discussão que, imagino eu, tentava averiguar os culpados pelos erros na operação. Aí me detive no detalhe: que crueldade foi a ação policial! Algema para surdo-mudo é o mesmo que mordaça para falantes, ou seja, tortura. E isso deveria ser proibido por lei...

E ainda segundo a reportagem, depois de terem chamado a irmã de uma das rés para servir de intérprete para que o delegado pudesse finalmente dar voz – oops, gesto - de prisão, descobriu-se que o mentor da quadrilha é um homem, também surdo-mudo. Como se vê, a inclusão social se deu de forma quase perfeita, não fosse, mais uma vez, a constatação de discriminação nas relações trabalhistas entre os sexos. Ao que parece, as funções estratégicas ainda estão a cargo de homens também nas quadrilhas e às mulheres delegam-se as tarefas operacionais e de alto risco. Será que a Organização Criminal S.A. pagava ao menos o adicional de periculosidade para elas?

Isso daria um texto no blog da Carla Rodrigues no No Mínimo, hehe.